07 setembro 2011

A liberdade nunca e real

Se examinarmos um indivíduo isolado sem o relacionarmos com o que o rodeia, todos os seus atos nos parecem livres. Mas se virmos a mínima relação entre esse homem e quanto o rodeia, as suas relações com o homem que lhe fala, com o livro que lê, com o trabalho que está fazendo, inclusivamente com o ar que respira ou com a luz que banha os objetos à sua roda, verificamos que cada uma dessas circunstâncias exerce influência sobre ele e guia, pelo menos, uma parte da sua atividade.


E quantas mais influências destas observamos mais diminui a idéia que fazemos da sua liberdade, aumentando a idéia que fazemos da necessidade a que está submetido.

(…) A gradação da liberdade e da necessidade maiores ou menores depende do lapso de tempo maior ou menor desde a realização do ato até a apreciação desse mesmo ato. Se examino um ato que pratiquei a um minuto em condições quase as mesmas em que me encontro atualmente, esse ato parece-me absolutamente livre.


Mas se aprecio um ato realizado há um mês, ao encontrar-me em circunstâncias diferentes, a meu pesar, se não tivesse realizado esse ato, não existiriam muitas coisas inúteis, agradáveis e necessárias que derivam dele.


Se me translado com a memória a um ato mais remoto, a um ato de há dez anos ou mesmo mais, então as suas consequências ainda se me apresentarão mais evidentes e ser-me-á difícil representar-me seja o que for, caso aquele ato remoto nunca tivesse existido.

Quanto mais retroceder na minha memória, ou, o que vem a dar na mesma, quanto mais projetar no futuro o meu juízo, tanto mais duvidosos me parecerão os meus raciocínios acerca da liberdade do ato realizado.