Eu não sou Hilda Hilst
Quero escrever um poema de amor
Mas, que amor?
Então, farei um poema de guerra
Não, chega de guerra! Cansei das guerras…
Um poema de morte, talvez?…
Quero que a morte me deixe em paz.
Vida? Um poema de vida, pode ser?
Não me sinto úmida o suficiente pra escrever
Sobre a vida…
Do que vou falar, então?
Hilda Hilst.
Hoje só consigo me lembrar que não sou Hilda Hilst
Sou uma égua tomando água como se fossem luas, mas
Não sou Hilda, Hildinha…
Não acordo com a taça de vinho (do porto) na mão
Abro as janelas da sala e dou de cara com a poesia…
Não. Acordo com o cartão de ponto, e
O apito da fábrica zunindo na alma
Sempre atrasada, sempre em busca do tempo perdido
O tempo que não amei, não te amei amor
E, não fui eu. Não me ganhei numa partida de pôquer
Não bebi meu fígado até a hora de passar no açougue, e
Levar algumas postas de mim para o almoço.
Eu não me comi, amor…e não deixei você me comer
Até o sol cansar de esperar por nós…
Eu morri de frio em plena primavera.
Acabou. Eu acabei.
Não uso a poesia para fugir, ou
Escapar…
Poesia é pra morrer, é pra parir
Poesia que faz sonhar não é pra mim, amor.
Desculpe, eu não sou Hilda Hilst,
Apesar de termos tanto em comum:
Amor, pecado
Embriaguez, palavras cáusticas…e,
Líquidas
Solidão,
Cansaço…,
Sim, Eu não sou Hilda Hilst, mas
Estou tão sólida quanto ela agora.
Se não escorro, amor, não sei
O gosto que a vida tem…
No site: Vidráguas