01 agosto 2012

REGISTRO CIVIL

Ela colhia margaridas
quando eu passei. As margaridas eram
os corações de seus namorados,
que depois se transformaram em ostras
e ela engolia em grupos de dez.

Os telefones gritavam Dulce,
Rosa, Leonora, Carmen, Beatriz.
Porém Dulce havia morrido
e as demais banhavam-se em Ostende
sob um sol neutro.

As cidades perdiam os nomes
que o funcionário com um pássaro no ombro
ia guardando no livro de versos.
Na última delas, Sodoma,
restava uma luz acesa
que o anjo soprou.
E na terra
eu só ouvia o rumor
brando, de ostras que deslizavam,
pela garganta implacável.

Brejo das Almas  (1934) * Carlos Drummond de Andrade