01 agosto 2012

Gemem as paredes ...


Pálido será o rumor na nossa revolta de um só dia
Quando a fronteira ou o limiar da luz nascente
Vier abraçar-nos e consumir ao som da aurora
Todo o breve momento mágico da nossa saliva
Transpirada no ritmo incessante de um orgasmo
Refluxo repetido com que te respiro o peito duro
E te contemplo uma última vez antes da vertigem
Do sémen ou do húmido calor que de dentro de ti
Vem ao encontro do meu sexo na fúria de um grito.

Gemem as paredes o sol reflectido nos teus cabelos
Colados ao suor das nossas faces após tempestade
Convocada pelas plenas pulsões que nos arrastam
E a água tépida que nos banha o porto de um abraço
Prenúncio fecundo das parcas lágrimas a haver
Esgota-se no trago com que o céu nos devora o azul
Protesto dos deuses contra a nossa escalada sinuosa
Às origens distantes da madrugada que desponta
Na fita tangível do horizonte reflexo dos teus olhos

E é na tinta translúcida das nossas mãos repetidas
Na sombra ou na marca que deixamos nesse leito
Que iremos procurar a memória transitória do amor
Destes breves momentos da comunhão reflorida
Agora a cinza que evapora o nosso olhar assoprado
E cai sobre um negro oceano cruzado pelas insónias
Da reclusão quotidiana de um sentimento consumado
Na solitária devastação real com que nos masturbamos
Buscando lenitivo para a ausência do sangue e do sal.