23 setembro 2009

Poema nº 2

PABLO NERUDA


Na sua chama mortal te envolve a luz.

Absorta, pálida do assim postada

contra as velhas helices do crepúsculo

que em torno de ti dá voltas.



Muda, minha amiga,

sozinha na solidões desta hora de mortes

e cheia das vidas do fogo,

herdeira pura do dia destruído.



Do sol desabam uvas no teu vestido escuro.

Da noite as grandes raízes

crescem de súbito na tua alma,

e ao exterior regressam as coisas em ti ocultas,

de modo que um povo pálido e azul

de ti recém-nascido se alimenta.



Ó grandiosa e fecunda e magnética escrava

do círculo que em negro e doirado acontece:

erguida, tenta e alcança uma criação tão viva

que morrem suas flores, e cheia é de tristeza.

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